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Economia circular: como a obra pode contribuir com o planeta - e com o seu bolso
Joyce Diehl
Já ouviu falar em Cradle to Cradle? E em “do berço ao berço”?
Essa expressão - Cradle to Cradle - foi título de um livro-manifesto (2002) lançado pelo arquiteto americano William McDonough e pelo engenheiro químico alemão Michael Braungart, que veio a se tornar uma das obras* mais influentes do pensamento ecológico mundial. O pensamento surge em oposição à ideia de que a vida de um produto deve ser considerada ‘do berço ao túmulo’ – uma expressão usada na análise de ciclo de vida para descrever o processo linear de extração, produção e descarte – muito comum ainda. Ou seja: a ideia central é que os recursos sejam geridos em uma lógica circular e continua de criação e reutilização de um determinado material. Permite que materiais e recursos sejam reutilizados indefinidamente e circulem em fluxos seguros e saudáveis – para os seres humanos e para a natureza, que fique bem claro.
Um sonho para muitos – já muito suado em vários setores. E um conceito a ser pensado, mesmo que de forma ainda tímida, na construção civil – um dos setores que mais desperdiça material no Brasil e no mundo. Os números são alarmantes: o setor é responsável pelo consumo de 40% a 75% da matéria-prima produzida no planeta, além de um terço dos recursos naturais. Chocados? O consumo de cimento é maior que o de alimentos – e só perde para o de água. E nenhuma obra se sustenta sem esses dois pilares – cimento e água. E se não podemos frear a construção, melhor pensar em formas de minimizar o problema – apesar dos números e da cultura do desperdício brasileiros em relação aos EUA e Europa, por exemplo,
É aqui que pequenas – mas não menos importantes – escolhas podem ser feitas. Um simples canteiro de obras organizado já ajuda. A separação da madeira de caixaria usada para reuso (alimentam fornos de olarias, por exemplo). Antes disso, retirada dos pregos, material facilmente vendável e reciclável. O treinamento periódico da equipe também conta pontos, evitando tanto o desperdício quanto o bom hábito de ter cuidados com todos os materiais, com o recebimento, uso e descarte de forma correta. Assim como alertar – na verdade, exigir – que os fornecedores e/ou terceirizados cuidem da organização, uso, desperdício e descarte de seus próprios materiais. Gesso comum, por exemplo, cria resíduos altamente tóxicos que precisam ser reutilizados de forma correta – nunca descartados por aí, quando não se pode usar o gesso acartonado, bem menos nocivo e menos residual. Tintas, a mesma coisa: nunca devem ser descartadas sem o devido cuidado - e suas embalagens recicladas. E tantos outros materiais, como ferro, alumínio, plástico. Parece pouco, mas já é um passo. E à cada obra racionalizar os materiais, pesquisar e escolher novas técnicas – ou melhorar as existentes, além de cuidar do descarte e quem sabe reuso do material que sobra. Indo mais a fundo, até o descarte do lixo orgânico , os cuidados com a saúde de cada um, com higiene pessoal, com o asseio, o cuidado com os uniformes, o uso correto dos EPIs –que já falamos aqui – tem, sim, impacto sobre uma obra ser mais ou menos sustentável. Pequenos passos, mas que te sua importância no ciclo. O planeta agradece.
Joyce Diehl, arquiteta, para a Embraconi
(*) No Brasil, o livro foi publicado em 2014 pela editora Gustavo Gilli, com o título Cradle to Cradle – Criar e reciclar ilimitadamente).